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sábado, 31 de março de 2012

Fundação Nacional do Índio terá mulher na presidência da instituição

Marta do Amaral Azevedo, que trabalhou com educação e saúde reprodutiva da mulher indígena, substituirá Márcio Meira. Nova presidente deve ser nomeada até o final do mês e terá desafios, como questões fundiárias e usinas

A demógrafa Marta do Amaral Azevedo, professora da Unicamp, será a primeira mulher a presidir a Funai (Fundação Nacional do Índio). Sua nomeação está prevista para o fim do mês.

Ela substituirá o antropólogo paraense Márcio Meira, que pediu para sair após um mandato de cinco anos -o mais longo da história do órgão indigenista.

Meira disse à Folha que decidiu sair após ter sido convidado para assumir outra função no governo (ele não diz qual, mas afirma que ficará em Brasília). "Já cumpri minha missão institucional. Completei um ciclo", afirma o presidente da Funai

Azevedo, próxima do PT, foi escolhida pelo ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) com ajuda do próprio Meira.

Entidades ligadas à política indigenista e organizações indígenas não foram consultadas sobre a troca, o que motivou uma carta de protesto na semana passada da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) à presidente Dilma Rousseff.

"Não é nada pessoal, mas os índios reivindicaram participar do processo", disse o assessor político da Apib, Paulino Montejo.

Formada em ciências sociais pela USP, com doutorado em demografia na Unicamp, Marta Azevedo trabalhou no ISA (Instituto Socioambiental), no alto rio Negro, com educação e saúde reprodutiva da mulher indígena.

DESAFIOS

A demógrafa assume a Funai num momento em que o Brasil é repreendido por organismos internacionais pelo que militantes veem como um atropelo aos direitos indígenas, na construção da hidrelétrica de Belo Monte.

O governo tem planos de outras hidrelétricas na Amazônia que afetam terras indígenas, como a de São Manuel, entre Mato Grosso e Pará - um problema para a próxima presidente resolver.

"O governo tem pouca sensibilidade à questão indígena, e há uma série de investidas contra os indígenas", diz André Villas-Bôas, antropólogo do ISA e ex-colaborador de Azevedo.

Ele cita a PEC-215, uma proposta de emenda à Constituição que tira do Executivo a prerrogativa de demarcar terras indígenas.

"A Marta é uma pessoa digna, mas, se o governo continuar mantendo a mesma postura, ela pode cair em isolamento", diz Villas-Bôas.

Outro problema é o conflito fundiário nas terras guaranis, em Mato Grosso do Sul.

Nos últimos dois anos a Funai identificou cerca de 30 terras que poderiam ser devolvidas a índios, que vivem confinados, mas não avançou na retirada dos fazendeiros.

A futura presidente conhece a situação de perto: ela estudou os suicídios dos guaranis confinados nos anos 80.

Márcio Meira deixa presidência da FUNAI após cinco anos de mandato

À EQUIPE FUNAI E POVOS DO BRASIL
Prezadas servidoras
e prezados servidores


Meira endereçou mensagem aos que fazem o cotidiano do órgão
"Nesta data, 23 de março de 2012, em que nossa gestão completa cinco anos, venho agradecer, em nome de toda a equipe dirigente, a cada servidora e servidor, aos povos indígenas e suas organizações, aos parceiros e colaboradores, inclusive àqueles que já não estão compondo os quadros da FUNAI, mas que emprestaram por um tempo seus conhecimentos e se dedicaram à causa indígena com aplicação.

Poderíamos enumerar todas as dificuldades, os muitos feitos e importantes conquistas, mas prefiro deixar por conta de cada uma e de cada um, nas diferentes regiões e, portanto, em cada realidade, o reconhecimento de que foram parte importante deste novo tempo que vive a FUNAI; um tempo de estabilidade que esta instituição precisava para seguir adiante em sua missão de Promover e Proteger os Direitos dos Povos Indígenas.

Quero parabenizar a todas e todos, pois sem o empenho, a dedicação de cada um e o espírito de equipe que nos faz ser uma única instituição, não teria sido possível percorrer com êxito esses cinco anos.


Fraternalmente,

Márcio Meira."