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terça-feira, 10 de maio de 2011

Nota de Repúdio ao Jornal Acontece Peruíbe


O colega Anônimo aí ficou nervoso. Pior para ele, faz mal pro coração. E se ele acredita que a construção de um porto em Peruíbe iria trazer desenvolvimento sustentável para o município devo responder que infeliz é o povo que precisa esperar que caia dos céus um megaempreendimento salvador bem em cima de sua cabeça, pra só depois acordar para a triste realidade: emprego só para as pessoas de fora, contratação só de empresas e serviços de fora, e para a população local fica só o ônus da criminalidade, prostituição e destruição ambiental. A mesma LLX realiza um empreendimento no Porto do Açu, São João da Barra, lugar pacato, de pescadores, que tive o prazer de conhecer bem antes da LLX, nessa mesma praia do Açu. Esse colega Anônimo pode pesquisar como está o Açu hoje, seus comerciantes e pescadores, o que eles ganharam e o que perderam com o empreendimento, é aviltante. Existem diversas maneiras de se promover o bem-estar de uma população de forma realmente sustentável e muito melhor distribuída do ponto de vista econômico, social e cultural, é uma questão de inteligência e boa-vontade. Parabéns ao povo indígena Tupi-Guarani por sua luta pela Declaração da TI Piaçaguera.
 
Rodrigo - Antropólogo da Funai.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Nota de Repúdio ao Jornal Acontece Peruíbe

"Notícia Em Questão

GOVERNO DILMA DÁ UM TIRO DE MISERICÓRDIA NOS SONHOS DE DESENVOLVIMENTO EM PERUÍBE.

Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo assina portaria da TI Piaçaguera, única área que restava para expansão do município

   Foi publicada no Diário Oficial da União, de 26 de abril, a portaria nº 500, do Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, que declara a posse permanente da Terra Indígena Piaçaguera, em Peruíbe ao povo Guarani Nhandeva. A decisão conclui, assim, o processo da FUNAI que visava regulamentar esta área para a comunidade indígena local.
   A TI Piaçaguera compreende área de 2.795 hectares e tem perímetro de aproximadamente 38 quilômetros, e ocupará a única área disponível para expansão do município. A medida compromete projetos tais como Porto Brasil, acabando de vez com o sonho de desenvolvimento sustentável de Peruíbe.
   O que não dá pra engolir é essa história de preservação indígena, uma vez que é público e notório o fato de os mesmos estarem reduzidos a meia dúzia de gatos pingados, que são facilmente encontrados bêbado caídos nas proximidades da feira de domingo, onde tentam comercializar plantas, palmito e artesanato.
   Está na hora de se acabar com a hipocrisia, e assumirmos que os índios somos todos nós brasileiros que vivemos nessa pseudo-democracia, onde as promessas são feitas para muitos, mas as benécies concedidas para poucos."    
            Autor desconhecido


Repúdio

  É profundamente lamentável que um jornal de grande porte em nossa região que se intitula "jornal da sua cidade", desconhece a própria história do município e a realidade ao qual se encontram as comunidades indígenas locais, pois antes de ser Peruíbe, essa terra era toda habitada e pertencente aos indígenas Tupi, ao qual toda essa beleza e rica natureza que é o cartão postal da cidade, foi e é preservada graças as comunidades indígenas que aqui habitam, que ao contrário de "meia dúzia de gato pingado" somos aproximadamente 500 indígenas distribuídos nas quatro reservas indígenas dentro da Terra Indígena Piaçaguera ( Bananal, Nhamandú Mirim, Piaçaguera e Taniguá).
  Será que o respectivo diretor responsável por essas matérias sabe o que é sustentabilidade? Sabe que sustentabilidade não se baseia na degradação, como aconteceria no caso do Porto Brasil, e sim na conservação do meio ambiente em que a cidade se encontra? Sabe que a sutentabilidade de Peruíbe é baseada no turismo e pode ganhar muito mais explorando o eco turismo? Isso sim é sustentabilidade. Acho que este senhor está necessitando ter umas aulas conosco, indígenas, que desenvolvemos projetos sustentáveis em nossas aldeias, de maneira que possamos explorar a natureza conscientemente além de repor à mesma espécies que foram degradas pelo "tal progresso".
  É meu caro diretor, infelizmente o senhor como uma maioria da cúpula, que faz "política suja" em Peruíbe, tem que encarar o fato de que perderam. Muitos desacreditam na justiça brasileira, mas desta vez ela foi feita!
  Concordo plenamente com o que este tão importante veículo de informação diz: "os índios somos todos nós brasileiros", e acrescento que esta vitória é de todos aqueles que têm cultura e acreditam que nem tudo pode ser corrompido, e apesar de vivermos numa sociedade totalmente capitalista, existem pessoas íntegras à frente do nosso poder judiciário.
   Essa visão tão antiquada e preconceituosa do indígena já caiu de moda, hoje já sabemos que o caso do alcoolismo é um problema social que atinge não somente indígenas, mas também a todas as classes sociais do nosso Brasil. Nós indígenas temos muito a contribuir com o desenvolvimento não só da região, mas como de todo o país, basta sermos ouvidos, pois o maior exemplo é a nossa sobrevivência  sem problemas, doenças ou mesmo degradação ambiental durante tantos anos longe da tão falada "civilização". Somos uma nação que respeita as crianças, os mais velhos, a natureza e todos os seres que a ela pertencem. 
  Hipocrisia é acreditar que tudo pode ser "comprado" em nosso país, e que nós indígenas não temos direito ao que sempre foi nosso: a terra! O que reivindicamos é pouco perto do muito que nos foi tomado. 

Professor Cacique Ubiratã